SISTEMA NERVOSO AUTONOMO

Introdução

O sistema nervoso autonomo é um dos sistemas que controla, a cada instante, o corpo humano. Neste momento, como já foi leccionado em várias disciplinas, já sabemos que existem sistemas com necessidade de controlo a curto prazo (os relacionados com as funções vitais à sobrevivência do indivíduo, como o controlo da circulação, respiração, pressões osmóticas necessárias à filtração renal, temperatura, metabolismo e função gastrointestinal) e outros a prazo mais dilatado (os relacionados com os ritmos circadiários, sono-vigília e protecção contra agentes externos ou internos agressores). 

Quando existe uma falência de um sistema de um controlo (geral ou particular), ocorrem alterações da função do SNA e dos mecanismos que regu-lam a homeostase ou equilíbrio do indivíduo.
Algumas causas das referidas falências são: 

-  Lesões de neurónios periféricos causadas por neuropatia periférica;
-  Lesões da medula espinal causadas por acidentes;
Síndromes, como a síndrome da morte súbita infantil, em que há ausência de neurónios autonómicos, que normalmente não permitem que o indivíduo se desenvolva até ao estado adulto;
-  Falências decorrentes do envelhecimento do indivíduo;
-  Falências de origem farmacológica, provocadas por substâncias ingeri-das para produzir uma determinada função. 

Essas disfunções podem ser localizadas ou generalizadas (ver à frente os casos específicos); primárias (falência autonómica pura) ou secundárias (decorrentes de patologias).  

Por esta altura, já sabemos também como funcionam, em traços gerais, os sistemas de controlo: existe uma zona central de processamento (siste-ma nervoso central – encéfalo + medula espinal) e uma zona periférica de sensorização das alterações (constituída por uma série de receptores), que através de vias nervosas aferentes envia a informação que está a ocorrer num dado local para o sistema central de processamento, o qual por sua vez, através de vias nervosas eferentes, provoca acções a curto prazo (através do sistema nervoso autónomo, com acção incisiva rápida e de curta duração) ou a longo prazo (sistema hormonal, com uma acção iniciada mais tar-diamente e que dura muito mais tempo). 

Algumas das disfunções autonómicas mais importantes (ver hand-outs) são:

i)                    de origem primária: atrofia múltipla sistémica, falência autonómica relacionada com Parkinson, falência autonómica pura completa;
ii)                  de origem secundária: todas as falências autonómicas resultantes de patologias como a diabetes, artrite reumatóide, lúpus, síncope vaso-vagal ou hipotensão ortostática.

Organização geral do sistema nervoso autónomo

O SNA tem duas grandes classes principais: o sistema nervoso simpá-tico e o sistema nervoso parassimpático. Ao nível do intestino existem ainda fibras do SNA que formam o chamado sistema nervoso entérico, que consti-tui um “grupo especial” pois não actua exactamente do mesmo modo que o SNA actua nos outros órgãos.  

Sabemos, por exemplo, que um nervo que inerva o músculo pela junção neuromuscular tem o seu corpo celular no SNC (ver imagem nos hand-outs). No SNA há diferenças do ponto de vista neuroanatómico. O corpo celular encontra-se igualmente no SNC mas existe uma solução de descontinuidade, um gânglio autonómico, o que faz com que os neurónios do SNA sejam cons-tituídos por uma fibra pré-ganglionar e uma fibra pós-ganglionar. Os órgãos efectores são os músculos liso e cardíaco e as glândulas e neurónios do tracto gastrointestinal. 

Existem diferenças neuroanatómicas entre os neurónios pré e pós gan-glionares simpáticos e parassimpáticos:

Sistema nervoso simpático

1. Os neurónios pré-ganglionares são mais curtos que os parassimpáti-cos e fazem sinapse nos mesmos gânglios, que estão afastados do órgão;
2. Os neurónios pós-ganglionares são longos por comparação com os do parassimpático.

Sistema nervoso parassimpático

1. Os neurónios pré-ganglionares são mais longos e sinapsam nos gân-glios, que estão quase sobre o órgão;
2. Os neurónios pós-ganglionares são muito curtos.


Todos os órgãos são inervados, de forma geral, reciprocamente pelos sistemas nervosos simpático e parassimpático, os quais, também de uma for-ma geral, têm acções opostas.

Exemplo: o parassimpático contrai a pupila e o simpático dilata-a; no coração, o simpático provoca taquicardia e o parassimpático bradicardia; na bexiga, o parassimpático está relacionado com a função de esvaziamento (reflexo da micção), enquanto que o simpático está relacionado com a função de enchimento (reflexo relacionado com a função vesical).

Alguns aspectos sobre o sistema nervoso simpático

O simpático tem uma organização tóraco-lombar, saindo entre a T1 e a L3. 

A distribuição dos neurónios pré-ganglionares simpáticos tem caracterís-ticas especiais. Na medula espinal, mais concretamente na coluna de células intermédio-lateral dos seus cornos laterais, saem os neurónios pré-ganglionares simpáticos, que sinapsam na cadeia ganglionar perivertebral. Essa sinapse pode ser feita no próprio segmento, isto é, nesse segmento o neurónio pré-ganglionar pode originar um pós-ganglionar; contudo, pode acon-tecer também que esse neurónio não sinapse no gânglio correspondente ao seu segmento mas mais abaixo ou acima dele, sendo que isto faz com que a distribuição da actividade simpática não seja segmentar. Assim, se estimu-larmos um animal de experiência neste segmento, podemos ter alterações nos órgãos inervados por neurónios que estão acima ou abaixo do segmento cor-respondente.   

Os principais gânglios relacionados com o sistema nervoso simpático são o gânglio superior cervical, gânglio médio cervical, gânglio estrelado (importante pois dele partem fibras para o coração e pulmões), cadeia gan-glionar simpática (vai para toda a região pélvica) e gânglios superior e infe-rior mesentéricos (com neurónios pré-ganglionares que saem deles para iner-var a parte inferior do corpo).  

Alguns aspectos sobre o sistema nervoso parassimpático 

·         O parassimpático tem uma distribuição crânio-sagrada.

·         As fibras parassimpáticas saem através dos nervos cranianos dos III, VII, IX e X pares e do nervo esplâncnico.

·         Cerca de 75% das fibras parassimpáticas têm origem numa região loca-lizada no bulbo, no núcleo ambíguo ou no núcleo motor dorsal do vago, situados junto ao início do tronco cerebral, numa zona muito curta e muito pequena (ver hand-outs).
 
·         Quanto aos III e VII pares, saem do núcleo de Edinger-Westphal, enquanto que o IX sai do núcleo salivatório.  


Existem também algumas fibras parassimpáticas que saem da medula espinal através dos segundo e terceiro nervos sagrados e, ocasionalmente, pelo primeiro e quarto nervos sagrados. Estes neurónios pré-ganglionares parassimpáticos que saem da região da coluna de células intermedio-lateral sagrada vão através dos nervos esplâncnicos até aos gânglios pélvicos, onde sinapsam, indo a partir daí para as vísceras pélvicas. 

Alguns aspectos sobre o sistema nervoso entérico   

É constituído por dois plexos, Auerbach (mioentérico) e Meissner (submucoso), separados pela camada circular da muscular própria (ver hand-outs). 
As fibras esplâncnicas inervam densamente ambos os plexos, permitin-do assim a absorção e a contracção e dilatação que se observam no intestino e que permitem a progressão do seu conteúdo. 

Diferenças entre neurotransmissão simpática e parassimpática 

Têm em comum o facto de os neurónios pré-ganglionares sinapsarem no gânglio e o NT envolvido ser a acetilcolina, que atua em receptores nico-tínicos.

Nos neurónios pós-ganglionares... 
1) ... parassimpáticos, a acetilcolina actua e mantém-se como neurotransmissor, actuando em receptores muscarínicos
2) ... simpáticos, a acetilcolina actua em receptores muscarínicos (que inervam, por exemplo, os músculos dos nervos), mas também em recep-tores adrenérgicos (adrenalina; noradrenalina).
                  
        
REVISÕES

Receptores
Os receptores que actuam no SNA estão ligados a proteínas G e a segundos mensagei-ros.

Os principais tipos de receptores do SNA são:

1. Adrenérgicos (β1 – predominantes no coração, ocorrendo também no intestino; β2 – predominantes em órgãos que não o coração, no qual no entanto também podem exis-tir; β3): exercem as suas funções moduladoras no sistema nervoso simpático;

2. Muscarínicos (M1, M2, M3 e M4): exercem as suas funções através da acetilcolina, pertencendo ao grupo dos receptores colinérgicos e não tendo nenhum deles preponde-rância nalguma das vísceras (estão distribuídos por todas elas).


Nota 1: O conhecimento dos locais onde predominam cada um dos tipos de receptor é importante no contexto da farmacologia.
Nota 2: Segundo o Ganong, os receptores M2 predominam no tecido cardíaco e os M4 no tecido glandular, considerando-se ainda um quinto grupo, M5.


Co-transmissão e neuromodulação

Alguns dos neuromoduladores e co-transmissores da adrenalina e noradrenalina para os sistemas nervosos simpático e parassimpático (coadjuvantes da acção desses neurotransmis-sores) são:

péptido vasodilatador intestinal;
 somatoestatina;
 encefalina;
 substância P;
neuropéptido Y.  


Organização da informação pelo SNA 

O primeiro passo do processo de organização da informação pelo SNA é o  envio da informação desde a periferia às zonas centrais por aferências visce-rais oriundas dos receptores (ver hand-outs).
Nessas zonas centrais, a informação é transmitida especificamente a uma zona que funciona como integradora do sinal: o núcleo do tracto solitá-rio. A partir da chegada da informação a esse núcleo, podem acontecer dois processos diferentes:

1) surgir a emergência de um reflexo que vai para a periferia, organi-zando-se uma dada acção; 
2) “subida” da informação até zonas mais superiores (ver à frente quais são), para ser conjugada com a informação existente nos sistemas endócrino e limbico, provocando:

 um aumento da concentração das hormonas que vão actuar a médio/longo prazo, para contrariarem a acção que foi sensorizada pelos receptores;
 alterações comportamentais. 

O núcleo do feixe solitário (NTS) tem 3 organizações diferentes: 

1. Organização Anatómica: três zonas distintas: uma mais caudal (poste-rior ao obex), uma zona  intermédia e uma zona mais distal (mostral). ( é uma estrutura em V que vai desde a separação entre a medula espinhal e o bulbo ate ao pedúnculo cerebeloso)
2. Organização funcional:

É uma organização baseada nas eferências vão parar as células. Pode ser:
2.1 Organização funcional 

Existem células que recebem eferências de um determinada qualidade e com uma determinada origem, enquanto que existem outras que rece-bem de outras origens e qualidades. Isto é, há células que recebem informação principalmente proveniente dos receptores cardiovasculares, outras que recebem dos receptores gastrointestinais, outras dos recep-
tores das vias aéreas e dos pulmões, etc.  Esta organização predomina nas áreas mais caudais (zonas junto ao obex.

2.2 Organização viscero-topica :

Os receptores com origem numa determinada víscera enviam a sua informação para um determinado número de células (ex: os receptores pulmonares enviam informação para grupos de células localizadas numa determinada zona mas os receptores cardiovasculares já enviam infor-mação para um grupo de células que se localiza mais anteriormente.)  Independentemente do tipo de receptor que estão a vincular a informa-ção existem zonas q respondem a informação vinda do coração e da cir-culação, outras que respondem a informação vinda dos pulmões e vias aéreas, outras a informação vinda do tracto gastrointestinal.   

Principais estruturas que fazem parte da rede autonómica central:

- NTS, no bulbo 
- núcleo parabraqueal (principalmente o parabraqueal lateral) na protuberância junto à emergência dos pedúnculos cerebelosos 
- substância cinzenta central que rodeia o terceiro aqueduto 
- área de defesa hipotalâmica, que abrange 2 núcleos hipotalâmi-cos. É aqui que se faz a grande integração, ou o output hormonal e o output autonómico a nível desta área d defesa  - sistema límbico (com a amígdala) 
- córtex cerebral O NTS é a primeira zona em que é integrada a informação com origem nas aferências periféricas, depois essa informação vai subir ate ao núcleo parabra-queal, depois vai ate a substancia cinzenta central, à área de defesa hipotética, à amígdala e aos núcleos estriados do córtex.    

Eferências do n do tracto solitário (NTS)

 Para zonas do Tronco cerebral
 O NTS está no bulbo, na protuberância – locus coeruleus (vai integrar a informação com ori-gem nas aferências vesicais), núcleo parabraquial , núcleo de Kölliker-Fuse  (vai integrar os centros de informaçao respiratória).  É na zona que compreende estas estruturas que se coordena a informa-ção cardiovascular e a informação respiratória.
 Para zonas mais superior, do mesencéfalo, zona do tálamo, do hipotála-mo córtex. Estas eferências vão coordenar funções superiores (será dado na próxima aula)

 Aferências do NTS 
 Vindas de centros superiores :
 Sistema límbico – toda a conexão do sistema límbico, protuberância, sistema límbico, tronco cerebral
Estão sempre a funcionar e a enviar informação, em cada instante.
 Região do  hipotálamo  é a nível do hipotálamo que se desenvolve uma reacção importante para a homeostasia (junto ao fórnix). É uma reacção de defesa, reacção própria de cada indivíduo e que permite reagir contra um agressor. Esta reacção traduz-se por: hipertensão, taquicardia, aumento da ventilação, dilatação pupilar, vasodilatação colinérgica a nível dos membros, etc. Permite q o individuo resista a uma agressão externa. Sendo uma área importante do SNA.
 Parabraquial, porque está ligado aos movimentos

Avaliação do SNA  Métodos invasivos  

Fazem-se em animais “in vivo” através do registo dos potenciais de acção. É este registo que permite saber que determinadas zonas intervêm na modulação da resposta autonómica.  

1. Registo extra celular e Registo intracelular  Observa-se um potencial de acção que depois entra numa fase de repolarização e repouso.

2. Registo intracelular (de células) com simulação de situações do dia-a-dia, através de estimulações à periferia

a) Estimulação de receptores cardíacos, como acontece no caso de uma Enfarte de miocárdio, permite saber onde é que vou ter um aumento da informação.  Se fizer a estimulação dos receptores com, uma substância química que simula as substancias que são libertadas durante a isquémia do miocárdio, observo que há determinadas células que respondem com uma frequência muito aumentada. Sabendo onde estão estas célu-las, posso saber que uma determinada substancia vai provocar alte-rações numa determinada zona central, o que me permite correlacio-nar esta informação com situações patológicas. Isto está relacionado com as hipóteses de tratamento, permitindo um tratamento + diri-gido e um diagnostico + específico.
b) Estimulação da aérea d defesa hipotalamica, através de um registo intracelular – potencial de acção. Se aplicar um baroteste que simula uma situação de uma pessoa estar sentada na cadeira e se levantar, verifica-se que há aumento da actividade de determinadas células

Se provocar um quimioteste que simula a hipoxia e verifica-se que  aquelas células também aumentam a sua actividade.
Assim, posso relacionar um estímulo com uma determinada activida-de.
c) Estimulação quimioreceptora periférica (simula uma hipoxia) quais são as alterações que se verificam na PA, FC e no nervo frénico. É semelhante à diferença entre 2 tipos d estímulos distintos sensibili-zados por estruturas muito próxima, por exemplo junto à carótida.

Como é que faço a nível experimental distinção entre quimioreceptor e baroreceptor, como é que observo nas variáveis q registo? Tenho alterações de PA na mesma e da FC, mas num a componente venti-latória esta presente com o aumento da actividade do nervo frénico, e no outro não está. Neste aqui intervêm o baroreceptor a nível das mudanças de posição (por ex), e da manutenção da PA e o quimio-receptor esta relacionado c a manutenção das [CO2] e [o2] no san-gue. Portanto apesar de serem sensibilizados por receptores locali-zados a nível do seio carotídeo tem respostas diferentes e intervêm em células diferentes.
d) Estimulação química de um nervo: Se tiver o registo de uma activi-dade extra celular de um nervo pélvico. Tendo o registo continuado da pressão vesical e da PA geral registada em simultâneo, se injec-tar um neurotransmissor – o glutamato, numa determinada área do SNC pertencente a rede autonómica central, neste caso a substan-cia cinzenta pacnotal, obtenho alterações no nervo pélvico, que aumenta ligeiramente a sua actividade, o que correspondem a um aumento da pressão vesical. Isto são circuitos q intervêm no reflexo da micção.
e) Estimulação central com registo de duas pressões e da actividade de um nervo: Estuda-se a relação entre a pressão vesical, a quantidade de um neurotransmissor excitatório – o glutamato, e o registo da acti-vidade do nervo frénico, que vai aumentanto o espiculado e a altura da barra de registo porque ao nível do musculo liso vesical há uma contracção parassimpática e uma manutenção do aumento da pres-são vesical ao longo do tempo, concomitante com aumentos da PA. Estes aspectos são importantes nos doentes com síndrome comis-

sional (após urinar de madrugada perde os sentidos) em que estes mecanismos não funcionam. 
f) Interacção de diferentes reflexos num modelo animal com doença: Posso estudar por métodos invasivos situações patológicas. Num modelo animal, após provocar um enfarte de miocárdio, por laquea-ção do ramo distal da artéria coronária descendente, podemos fazer manipulações com os diferentes reflexos: reflexo de Bezold-jarisch de origem cardíaca, baroreflexo (+ geral), quimioreflexo carotídeo . Assim, vou observando o que vai ocorrendo em cada região e quais são as resposta do SNA às diferentes alterações. 

 Estes métodos raramente se aplicam a um doente, com excepção de alguns casos da neurocirurgia em que se fazem registos intracelulares. 

Métodos não invasivos 

(Atenção desta parte não há slides a professora desenhou no quadro!) 

Os sinais fisiológicos não são constantes ao longo do tempo, ou seja, os sinais que nós registamos em cada instante PA, FC, ritmo cardíaco tem um ritmo circadiário (variam ao logo do dia e da noite). Assim, posso ter o registo da PA de um pessoa normal, que tem oscilações. No entanto, se eu tiver uma pessoa com uma lesão na área autonómica não vai ter o mesmo perfil. Vai existir uma maior irregularidade durante o dia e durante a noite - o registo apre-senta uma maior variabilidade do sinal. Neste caso é uma variabilidade patolo-gia, porque os seus sistemas de controlo da pressão arterial não estão a fun-cionar. A variabilidade dos sinais fisiológicos permite de um modo não invasivo, fazer distinção entre indivíduos normais, indivíduos normais e d diferentes ida-des (o envelhecimento altera o SNA), entre indivíduos normais d diferentes idades e distingui-los d indivíduos com uma determinada patologia.
Esta distinção faz-se através do registo curto ou longo de determinadas variá-veis. As variáveis mais estudadas são as relacionadas com o coração, ou seja, através de registos curtos ou de registos de 24h executados por um electrocar-diograma ou através da monitorização da PA, por 24h ou em registos curtos. 



Estes estudos executam-se em 3 domínios:

1. Avaliação no domínio do Tempo

Utiliza os intervalos r de cada electrocardiograma, mede-se esses interva-los, que não são sempre iguais, e faz um tratamento estatístico desses valores, obtendo-se uma média e um desvio padrão.  Assim, existe uma média e um desvio padrão para os indivíduos normais e uma media para indivíduos com uma determinada patologia.  Limitações: método muito trabalhoso principalmente nos registos longos de 24h e a detecção dos intervalos r nem sempre e bem-feita porque o ECG n os tem bem definidos, e falhando um r altera-se a media e altera-se o resul-tado final. Assim é um método demoroso que dependente da qualidade do registo do ECG. Métodos geométricos – forma de distribuir os intervalos rr em torno d um valor médio do rr. Apresenta 2 formas predominantes: Forma em charuto, forma em torpedo. Os indivíduos em forma em torpedo tem os pontos + concentrados, apre-sentando menor variabilidade, logo tinham um mau prognóstico ou um prognóstico pior em relação a patologia q apresentavam.

2. Avaliação no domínio da frequência 

Nestes métodos utiliza se a análise Fourier, que se caracteriza por fazer um estudo das frequências existentes num determinado sinal através de funções seno e co-seno. obtém se então um espectro de potência/frequência com determinadas características e aplicando a analise de Fourier a sinais fisiológicos (como a frequência cardíaca) obtemos um espectro de 3 bandas:

Very low frequencies (muito baixas frequências), 
Low frequencies (frequências baixas) 
High frequences (frequências altas), esta ultima está relacionada com o sistema nervoso parassimpático.

 Se fizer a análise de Fourier de um determinado sinal e procurar as low e high frequences e se tiver um padrão de normalidade posso ver como é que está, num doente, a variação da Low e High frequences e ter uma noção de como posso intervir se já tiver diagnosticado, dum ponto de vista terapêutico,
ou se não tiver diagnosticado como posso intervir de modo que este seja mais precoce e mais específico.
  
Transformada rápida de Fourier -  modifica um sinal periódico ou não periódico numa soma infinita de senos e co-senos de diferentes frequências. O Fourier não se pode aplicar a sinais estacionários. Quando se faz um teste autonómico (de Tilt) a pressão arterial, devido a alterações da gravidade vai descer e depois é que se adapta. Esta descida e adaptação deve-se à inter-venção do SNA para restabelecer os níveis de pressão necessários. A análise de Fourier quando encontra uma queda abrupta de sinal é incapaz de lê-lo, portanto aquilo funciona como se fosse uma janela, vai correndo o sinal e encontra um vazio, e não consegue dizer quais são as alterações imediatas autonómicas decorrentes de uma manobra efectuada neste tempo, t. Ou seja é uma ferramenta que só é útil se o sinal for estacionário.  

Avaliação no domínio do tempo-frequência – Análise de Wavelet  Ao contrário do Fourier, que só têm em conta os detalhes principais de um determinado sinal, a análise de Wavelet é capaz de captar não só o back-ground do sinal (ruído de fundo) mas também coisas específicas, aquilo que vai dar a individualidade ao sinal, permite-nos avaliar um sinal no domínio do tem-po e da frequência, permitindo ao modelo adaptar-se a mudanças de posição que as pessoas sofram durante os testes autonómicos. A análise de Fourier filtra o sinal, com variados filtros, a componente filtrada é “cortada em pedaci-nhos” e cria se um espectro que pode ser interpretado, dando significados patológicos ou fisiológicos. Em relação aos Wavelet existem 2 tipos: continua e discreta.    Diferença do ponto de vista matemático entre a função seno da analise de fourier e de wavelet: Ambas são ondas, a Fourier é uma onda grande, que tem um comprimento infinito, determinada amplitude e frequência e tem uma forma mais ou menos “suave”. A Wavelet oscila de uma forma mais ou menos periódica sobe e desce de uma forma irregular. É isto que a permite adaptar-se a sinais de variações abruptas. 
 Do ponto de vista de função autonómica utilizamos os Wavelets com 3 objectivos: fazer um diagnóstico mais precoce, mais específico e optimizar a  terapêutica.    Estes dados são de um doente em fibrilhação auricular que neste momento estava em ritmo sinusal e que também sincopa de vez em quando. A  este doente foi feito um teste de Tilt e depois foi feito um estudo da variação do SNA para o coração. Nesse âmbito o coração desse doente foi bloqueado do ponto de vista autonómico com atropina (bloqueia o parassimpático) e propano-lol (bloqueia o simpático). Estes são os resultados antes e depois do bloqueio. E o que vos quero mostrar são os intervalos RR (do ECG), que estão a variar de uma forma contínua e em baixo temos as LF e HF. Isto é o sinal normal de um doente que tem muitas oscilações antes do bloqueio e depois do bloqueio varia menos. O simpático e o parassimpático depois de bloqueados farmacolo-gicamente praticamente desapareceram (para o coração neste estado). Portan-to a partir da diferença entre o que está numa situação basal para uma em que eu provoquei uma determinada manobra posso inferir resultados e conclusões.   

O teste de Tilt é feito para ver como é que se fazem as adaptações das mudanças de posição, ou seja como é que estão os baroreceptores do indivi-duo sem ter em conta as bombas musculares das pernas que permitem que o retorno venoso ao coração de faça de uma forma mais eficaz.   Isto é um indivíduo normal: a pressão arterial sistólica está em cima e a frequência cardíaca em baixo. O que acontece num teste de Tilt é que a PA desce e depois recupera, houve intervenção do SNA para voltar a uma situa-ção de equilíbrio, portanto ele tem taquicardia e hipotensão o que é que acon-teceu em termos d SNA: aumentou o simpático durante a descida de pressão  para fazer vasoconstrição e aumentar o enotropismo e ritmo, e o parassimpáti-co que estava aumentado antes do Tilt, diminuiu para que houvesse acção do simpático sobre o coração.   
Isto é outro teste que se faz em termos de provas autonómicas que é o deep breathing e aquilo que se pretende ver é a relação entre a ventilação e o
sistema cardiovascular. Como sabem nós respiramos a 12 ciclos por minuto, e o que fazemos é por o doente a respirar a 6 ciclos por minuto, temos aqui os 6 ciclos, e o que acontece é que como a pessoa foi obrigada a respirar de uma forma mais lenta, vai fazer com q o parassimpático se exacerbe e podemos ver como está o sistema. Podemos ver num indivíduo normal o que acontece durante uma respiração induzida a uma frequência inferior, o parassimpático aumenta (resposta normal). Comparando esta com a dum individuo doente podemos inferir sobre a forma como o parassimpático está a funcionar.   Aqui temos o RR, que vem do ECG, portanto há influência da respiração na frequência cardíaca.   Agora temos um caso de um doente que tem atrofia multissistémica, caracterizada por hipotensões (neste caso ainda não se vêem), esta doença tem uma sobrevida de 10 anos, e provoca alterações profundas na vida do doente. Aqui temos a PA sistólica e aqui a frequência cardíaca através de intervalos RR, vejam como está o simpático e parassimpático desta doente. Esta doente do ponto de vista clínico ainda não tem os sintomas (hipotensão ortostática, enurese) no entanto já tem alterações autonómicas.    Aqui temos outra doente, num estadio mais avançado da doença, não tem nenhum SNA, e isso reflecte se na sua qualidade de vida. E portanto a par-tir da comparação das diferentes gradações que se obtém através dos LF e HF posso não só condicionar o diagnostico como também a terapêutica.       (isto vamos ver mais a frente quando falarmos do controlo da função vesical)  Registo de um nervo pélvico, tem um burst e uma série de potenciais de acção, eh um nervo parassimpático, (reflexo da micção) estão aqui os HF que traduzem uma subida da função parassimpática que leva a um aumento brusco da pressão vesical que leva a um reflexo da micção.   
Isto que têm estado a ver é uma forma de representar com Wavelet as alterações autonómicas utilizando a transformada discreta. Isto aqui é uma simulação de uma reacção de defesa, têm aqui uma das características da reacção de defesa que é um aumento abrupto da pressão arterial depois com
alterações correspondentes a nível dos baroreceptores, têm um aumento do simpático e depois do parassimpático. Do ponto de vista visual isto pode ser traduzido por isto, as vezes há determinado tipo de software que apresenta os Wavelets contínuos que eh o que temos aqui, temos em baixo o mesmo tipo de gráfico e o que podemos ver por um código de cores eh precisamente as alterações correspondentes ao simpático que aumentam aqui e as do parassimpático que aumentam mais a frente.    Isto é o tipo de registo (anterior e estes) que vêem nos equipamentos que vão encontrar a nível hospitalar quando tiverem q fazer um diagnóstico aplicado ao SNA e a outras áreas.   Qualquer método que seja utilizado para avaliar quer função autonómica ou outra função qualquer que tenha um número, esse número tem que ter uma relação fisiológica.

       


Bibliografia aconselhada: hand-outs da aula teórica de sistema nervoso autó-nomo e medula da supra-renal de Bioquímica Fisiológica; GANONG, William F., “Review Of Medical Physiology”, 22nd edition, pp.94-105 / pp.223-231; Guy-ton & Hall, “Textbook Of Medical Physiology”, 11th edition, pp.748-755.

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